segunda-feira, 14 de março de 2011

Isso aqui é trabalho


Três meses após a conquista do Campeonato Brasileiro, Muricy Ramalho pediu demissão do Fluminense. O técnico alegou a falta de boas condições para realizar o trabalho desejado como principal motivo de sua saída. Sempre acostumado com instituições bem organizadas estruturalmente, Muricy afirmou ter ficado espantado com alguns problemas do tricolor carioca, porém, esqueceu um pequeno detalhe. Seu salário, entre os técnicos, é o maior do Brasil. O tetracampeão brasileiro tira do clube, por mês, 800 mil reais. Toda essa movimentação das últimas horas reacendeu uma das maiores polêmicas no âmbito futebolístico do nosso país. Estrutura é realmente necessário? A resposta é: Sim. E muito.

Há quem diga que é obrigação dos jogadores jogarem com vontade e honrarem as cores que defendem. Só que também é obrigação da diretoria proporcionar um bom ambiente de trabalho para todos os funcionários do clube. É impossível ir longe no futebol atual sem planejamento, sem equipamentos modernos, sem vestiários bem cuidados e sem foco no trabalho e suas conseqüências. Sem esses ingredientes você não consegue se manter no topo tempo suficiente para ver seu trabalho dando o resultado esperado. Estrutura não ganha jogo, mas te dá campeonatos, no plural.

Claro que existem lampejos, mas todos são a curto prazo. Futebol é dinâmico, está sempre mudando e ganhando novos ares, novas formas de se organizar e de se atuar. A mudança é tão repentina que se não houver uma boa base por baixo, você se perde e vê seu clube em um beco sem saída. O Flamengo de 2010, o Corinthians de 2007 e Palmeiras de 2002 são alguns dos outros vários exemplos de equipes que foram vitoriosas em uma temporada e apresentaram imensa dificuldade de manter o trabalho períodos depois. O Fluminense 2011, segue o mesmo caminho.

Porém, é importante deixar bem claro: estrutura não é tudo, somente ela não te proporciona nada. E é aí que entra um dos fatores que muitos parecem esquecer que ainda existe, mas é decisivo, ganha campeonato e é uma das coisas mais bonitas do futebol: a força da camisa.

No Brasil, podemos citar Goiás, Atlético Paranaense e Vitória como os principais exemplos de que com boas condições de trabalho, mas sem camisa, não se pode almejar vôos mais altos. A equipe goiana e a paranaense se destacam pela excelente qualidade de seus centros de treinamento, um exemplo para qualquer clube da América do Sul. O baiano é um dos principais formadores de atletas do país, uma estrutura de base de dar inveja a muito clube europeu. Porém, em campo, não são mais do mesmo. Por outro lado, clubes com carência de estrutura, mas com tradição, são protagonistas no cenário nacional. Ou você acha que Flamengo, Corinthians, Vasco e Fluminense se destacam pela organização?

Por conta disso, o clube que consegue esse conjunto de tradição, CT, estádio e torcida estão sempre no topo. Internacional, Cruzeiro e São Paulo estão sempre fazendo boas campanhas, ano após ano, elenco após elenco, mudança após mudança. Há planejamento, há marketing, há base, há válvula de escape. É impossível imaginar uma temporada "desesperadora" de algum dos três.

Estrutura é necessária, sim. É um projeto a longo prazo, e engana-se quem acha que de um ano para o outro tudo vai estar resolvido. É preciso ter paciência e confiança na diretoria que promoveria a tal mudança no clube. Muricy, pelo visto, não tinha, e pulou fora. Deixou o clube na fogueira e praticamente eliminado da Libertadores, com convicção de que não iria muito longe pelo andar da carruagem. Agora, se o motivo foi realmente esse, são outros quinhentos, mas espero que essa saída sirva de alerta para muitos clubes por aí. Futebol não é mais brincadeira, modelos de 30 anos atrás não funcionam mais. "Isso aqui é trabalho, meu filho!" e nenhum resultado é imediato.

2 comentários:

  1. Bom eu to em contato com pessoas que sempre têm informações corretas de dentro do clube, e todas as fontes apontam que Muricy ja tinha proposta gorda do Santos há muito tempo. Seu empresário inclusive passou o carnaval tratando os detalhes de sua rescisão.

    Cadê a "honra" do treinador? Cadê o "exemplo pros filhos"? Pular do barco antes dele afundar é uma vergonha, sr. Muricy. Covarde, mas além de covarde é mercenário.

    Aprendam uma coisa: ninguém larga um salário de 600 mil (800 era pra comissão técnica toda) pagos em dia por conta de falta de campo ou vestiário bonitinho. Ninguém. Se fosse assim, Fluminense, Flamengo, Vasco e Botafogo não teriam treinadores de ponta nunca.

    E o que falar da atitude do treinador ao ir embora? Sequer meteu a cara numa coletiva de imprensa. Emitiu uma nota, e só. Deu entrevista ao GE hoje, pelo telefone, e só repetiu a versão que ja era divulgada na mídia esportiva.

    O motivo foi um só: recebeu proposta maior e vazou. Pela porta dos fundos.

    Já foi tarde.

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  2. Me da 800 mil por mês, que trabalho até num chiqueiro.

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