Cinco toques na bola, quatro marcadores para trás e um belo arremate por cima do goleiro. O terceiro gol do Santos contra o Colo Colo, em jogo válido pela penúltima rodada da fase de grupos da Taça Libertadores da América, tinha tudo para ficar na memória dos torcedores como uma pintura de Neymar. Mas a rigidez, ou melhor, a frescura da regra deu mais visibilidade ao que aconteceu logo depois. O atacante santista vestiu uma máscara e foi comemorar com a torcida. O árbitro, seguindo o manual, o expulsou.
O camisa 11 ficou nervoso, e desesperado tentou explicar que se tratava de uma máscara dele mesmo, porém, foi em vão. A mudança na regra de um tempo para cá deixa claro que todo atleta que utilizar algum tipo de adereço em sua comemoração deve ser punido com o cartão amarelo. É chato e desnecessário, é a robotização do futebol.
O gol é o ápice do esporte bretão, e a comemoração também faz parte do conjunto. É quando o jogador atinge o máximo ao longo dos 90 minutos, logo, nada mais comum que haja uma explosão de alegria. É a euforia, é o momento, é o agora, exatamente a característica do futebol. Limitar isso é desnecessário e tira o brilho do espetáculo.
Não é preciso ir muito longe na história para relembrar de comemorações irreverentes. Alguns jogadores ficaram marcados por utilizar adereços após marcarem um gol e acabaram caindo rapidamente nas graças da torcida, Paulo Nunes que o diga. O jogador, na época que defendia o Palmeiras, possuía um arsenal de mascaras a serem utilizadas, tais como porco, Mister M e Tiazinha. No Flamengo, Renato Abreu tomava a forma do Urubu Rei e batia as asas para a Nação Rubro Negra. No sul, Rentería levava os colorados à loucura ao se caracterizar como o mascote do time, o Saci Pererê.
Essas comemorações se diferenciam das demais e ficam na história. O torcedor adora e é saudável, mas é claro que precisa ter limite. Atingir a torcida adversária já é algo sério e passível à punição. Mas aí é que entra o papel do árbitro não? Na interpretação da provocação? Pois é, entrava. Antigamente, o juiz tinha o poder de decidir se a comemoração do jogador era exagerada a ponto dele levar um amarelo. Era algo subjetivo, como hoje em dia ainda é a "bola na mão e mão na bola". A autoridade máximo dentro das quatro linhas poderia permitir o uso de mascarás, chapéus e afins, caso entendesse que aquilo não causaria nenhum dano ao espetáculo.
Por mais justo que seja, isto não acontece mais. Esse poder foi tirado do árbitro, e agora está tudo escrito na regra. Utilizar adereço resulta em cartão amarelo. Simples, sem papo, sem argumento e sinceramente? Sem motivo. Um dos maiores dos muitos equívocos estipulados por Blatter no futebol moderno. Os patrocinadores dos clubes são os principais responsáveis pela mudança, afinal, qualquer mascara chama mais atenção do que uma marca estampada na camisa na hora do gol. É o dinheiro mais uma vez ditando o ritmo do esporte.
Em breve, é capaz de vermos jogadores marcando gol e voltando imediatamente para o campo para recomeçar o jogo.E é isso que a FIFA quer, profissionalização excessiva, jogo rápido, com tempo certo e mais períodos de bola rolando. Só que desta forma, ela não vai conseguir nada, já que, enquanto Neymar é punido por "exagerar" na comemoração, o Nacional distribui pancadas, faz catimba e consegue igualar o tempo de bola rolando e bola parada contra o Fluminense, pela Libertadores. Isso, ela não pune, nem ao menos se mexe, e vai lá saber o motivo.
O futebol está chato, robótico e disciplinador demais. Fez mais uma vítima, dessa vez, em terras inglesas. Wayne Rooney foi suspenso por dois jogos por proferir palavrões em sua comemoração. Sim, meus amigos, acreditem. O cúmulo para um esporte marcado pela alegria e liberdade de expressão. A frase tão repetida na liga italiana começa e ganhar cada vez mais força nos bastidores: "No al calcio moderno."