quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Canonização


E enfim, ele estreou. Depois de semanas se preparando e buscando melhorar sua forma física, Ronaldinho Gaúcho vestiu a 10 do Flamengo, nesta Quarta Feira, contra o Nova Iguaçu em jogo válido pela 5ª rodada do Campeonato Carioca. Um belo contato inicial do craque com a torcida rubro negra, que fez bonito e preparou uma fervorosa recepção para o astro.

Mosaico, bandeiras, máscaras, perucas e todos os adereços que se tinha direito. O Engenhão foi tomado por uma magia que não se via há muito tempo no Flamengo. Era só olhar o rosto de cada torcedor, a felicidade e o brilho nos olhos daqueles que pareciam não acreditar que Ronaldinho Gaúcho comandava o meio de campo rubro negro. Toda a semana que antecedeu a estréia foi especial. Ninguém falava, mas era evidente que o que aconteceria no dia 2 de fevereiro de 2011 ficaria marcado para sempre. Um sentimento que o próprio craque definiu como algo único e diferente de tudo que ele já viveu. O primeiro passo para a eternidade.

Momentos antes do pontapé inicial, Leonardo Moura, gentilmente cedeu a faixa de capitão para o novo camisa 10. Visivelmente emocionado, o gaúcho agradeceu o amigo e companheiro de equipe. Um gesto nobre do segundo maior lateral direito da história do Flamengo. A ideia de Luxemburgo provavelmente partiu do pressuposto de que com a liderança, Ronaldinho teria mais liberdade e confiança para exercer seu futebol. Além de que, de uma forma ou de outra, teria que "entrar na linha", já que passaria a servir ainda mais como exemplo para os outros atletas.

Em campo, o estreante foi discreto. Porém, passes precisos e muita vontade foram a síntese da sua atuação. Faltou o gol, é verdade, mas não é para se preocupar. Para o primeiro jogo em gramados brasileiros após uma década conquistando o mundo no velho continente, o Dente fez uma bela exibição. Sentiu o peso, óbvio, não podemos negar. O peso da responsabilidade de corresponder a toda expectativa gerada em torno de seu retorno, e o peso de vestir a camisa 10 do Flamengo.

O time em si atuou bem para a primeira partida deste grupo, visto que jogou contra 10 zagueiros. A equipe do Nova Iguaçu mostrou ter qualidade e uma aplicação tática invejável, apesar de jogar a maior parte do tempo com 11 homens atrás da bola. Os destaques rubro negros ficaram por conta do dinâmico Thiago Neves e do incansável Wanderley, que mais uma vez, entrou e mostrou que tem estrela. "Madeira que cupim não rói" - o apelido do herói do Hexa se aplica também ao camisa 33 do Flamengo. Com uma raça flamenga, do jeito que a torcida gosta, o atacante fez o gol da vitória e garantiu a festa na estréia do Ronaldo.

Como se não bastasse, Ronaldinho quis brincar um pouco mais com o coração dos milhões de rubro negros que acompanhavam a partida, seja no estádio ou em casa. Após o apito final, em uma belíssima imagem, o craque permaneceu durante algum tempo sozinho, no meio do gramado agradecendo por tudo aquilo. Foi o súdito daquela massa durante alguns segundos. A torcida entendeu e entrou no jogo. Ronaldinho Gaúcho era ovacionado por 40 milhões de torcedores, jovens e adultos, homens e mulheres. Um herói para uma Nação surgia naquele momento. Emocionado, o craque respirou fundo algumas vezes, e a torcida não parava.

A partir daquele momento, o camisa 10 passou a entender o porque daquela frase que ele havia dito, talvez com pouca ambição, ter um significado tão especial. "Flamengo é Flamengo". E o Ronaldinho é Ronaldinho. Ronaldo de Assis Moreira, ou melhor, São Ronaldo de Assis Moreira, o camisa 10 da Gávea, devidamente canonizado.

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