sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Crise de identidade


E lá estavam eles outra vez. Os franceses, os calculistas, os minuciosos. Jogaram a partida contra o adversário que adoram. Aquele que consagra qualquer time de sua seleção, que embala qualquer equipe francesa desmotivada. E, com os comandados do ex-zagueiro Laurent Blanc, não poderia ter sido diferente. O Brasil começou agredindo e foi superior em boa parte do primeiro tempo, mas no fim, deu a lógica: a França venceu.

O amistoso internacional realizado nesta quarta-feira, no Estádio Saint-Denis, ganhou pequenos ares de decisão ao longo da semana que se passou. O duelo fora marcado por um gosto insaciável de vingança por parte dos brasileiros, visto que era a chance de exorcizar um fantasma que assombra a Seleção há 19 anos. Era.

Com um segundo tempo apático, a equipe do técnico Mano Menezes foi dominada pelos "Bleus", que precisaram de apenas 9 minutos da etapa complementar para dar um golpe de misericordia com o voluntarioso Benzema, o "faz tudo". A equipa de Blanc ainda poderia ampliar o placar se não fosse o reflexo e a elasticidade de um dos melhores goleiros do mundo. Júlio César voltou em grande estilo e provou que ainda é o dono da camisa 1.

Porém, uma andorinha não faz verão, mas uma a menos, talvez. O Brasil agredia e era melhor na partida quando Hernanes perdeu a cabeça e levantou demais a perna, atingindo o jogador francês. Cartão vermelho mais do que merecido. E a partir daí, a equipe se perdeu, só que diferentemente de como fazia na era Dunga, o time não lutou. Simplesmente não brigou mais, deixou o jogo correr e viu um Menez inspirado fazer fila na defesa brasileira.

Por que isso? Por que essa apatia? É aqui que entra, ao meu modo de ver, uma das maiores contradições da opinião esportiva no nosso país. Em 2006, a Seleção fazia bonito. Dava espetáculos em treinamentos, fez amistosos sensacionais, ganhou uma Copa das Confederações dando show e com um pé nas costas e realizou, sendo generoso, duas boas exibições na Copa. Porém, perdeu.

A imprensa, então, cobrou empenho, o povo cobrou luta e vontade de vestir a camisa. Não precisava ser bonito, só precisava ser vitorioso. Foi aí que Dunga entrou, com tudo isso como objetivo. Tudo fora passado a ele: o resgate da garra, da raça e dos resultados. Em 4 anos, o Brasil jogou feio para o padrão que todos estamos acostumados, mas foi vencedor, apesar de tudo. Com a eliminação para a Holanda, o pedido foi diferente. Mano Menezes deveria resgatar a alegria de jogar futebol, o show, o jogo vistoso e o jeito canarinho. Aquele mesmo, que em 2006 fora tão criticado. E ele, conscientemente, vem fazendo o que pode até então. Se dará resultado, só o futuro nos dirá.

Uns dizem ser contradição, outros dizem ser a ordem natural das coisas. O fato é que o problema do Brasil vai além de A ou B. A questão é na filosofia e isso ficou bastante claro no duelo contra a França. Porque sinceramente, há quanto tempo não vê aquele time de amarelo como a temida Seleção Brasileira? E não se assuste, a imprensa estrangeira também não vê. Perderam o respeito, perdemos a imponência. É preciso mudança significativa! A questão não é falta de show ou falta de vontade. É muito além disso.

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