
Frases prontas, e respostas evasivas. Entrevistas chatas e algumas até engraçadas pela quantidade de baboseiras ditas. Cada dia que se passa se torna mais comum no futebol os jogadores se prenderem a discursos pré estabelecidos para qualquer (ênfase no qualquer) pergunta que lhe for feita. Porém, na última quarta após a surpreendente derrota do até então organizado Palmeiras 2011 para o Coritiba, o goleiro Marcos, ídolo do time e com sangue alviverde, deu algumas declarações que fugiram do clichê. O pentacampeão afirmou que o time do Palestra entrou totalmente sem vontade, como nunca havia visto antes, e que não havia chance de classificação no jogo de volta. Os torcedores acharam um absurdo escutar isso da boca de um símbolo da instituição e a imprensa, é claro, deu corda e aumentou ainda mais.
Vimos manchetes estampando a vergonhosa atuação da equipe do Palestra, sempre com uma nota falando da "infeliz" declaração de Marcos. Agora, infeliz por que? Ele falou o que pensa, o que todo mundo viu e o que ninguém pode negar. O maior goleiro da história do clube não falou nenhuma mentira, e tem total moral para falar o que bem entender. Ninguém é mais palmeirense que o São Marcos lá dentro. Ninguém.
E não é a primeira vez que ele manifesta sua insatisfação com a equipe após algum jogo. Ano passado, após ter falhado em um gol adversário, afirmou que os torcedores podiam ficar sossegados que sua aposentadoria viria no fim do ano. Esse ano, após a derrota para o Corinthians no jogo seguinte à eliminação dos alvinegros da Libertadores, Marcos disse que só o Palmeiras mesmo para "levantar os caras".
É irreverente e foge do padrão. Com a cabeça muito à frente da maioria dos jogadores de futebol, o goleiro palmeirense enxerga o esporte além do gramado, além do básico. Talvez por isso, aliado à sua técnica, tenha se notabilizado como um dos melhores de sua geração, totalmente com méritos. Sabe quando provocar, sabe quando criticar e quando ficar quieto. Só que muita gente se aproveita e diz que ele é causador nato de crises e afins. Pera lá né.
Antigamente falava-se muito mais coisa e nada acontecia. Em 1982, Zico deu certeza que o Flamengo seria Bi Brasileiro com gol de Nunes, um dia antes da final contra o Grêmio. E não precisa nem ir muito longe para exemplificar: Paulo Nunes, com o mesmo Grêmio, em 1996, após ser campeão da Copa do Brasil em cima do Fla, disse que o time gaúcho conquistaria tudo e que todos tinham que lhes aturar.
Hoje em dia, se um jogador dá uma resposta que fuja do senso comum, ele é duramente criticado, não só pela imprensa. Pelo clube, pelos próprios companheiros e até pela sua família. É um caso chato, não se pode falar o que pensa, não pode dar opinião de nada que te interpretam errado. Um jogador muito perseguido pela imprensa, hoje em dia, por falar o que pensa é o meia Carlos Alberto. Uma pessoa centrada, de gênio forte e que não procura agradar meia dúzia para se dar bem. Fala o que pensa e não está nem aí se vão gostar ou não.
É ruim entrevistar alguém assim? É, mas a imprensa tem que agüentar. Não tem que ficar satisfeita com uma ou duas frases elogiando o "professô" e exaltando a "busca pelos três pontos". Só que esses clichês são o que mais se ouve hoje em dia. O caso do Marcos é apenas um que se destacou em um time grande do nosso futebol. Imagina o que acontece em times de menor expressão, com pouca exposição na mídia?
Tudo isso é natural, é a forma de um atleta responder da forma que lhe convir. É preciso deixar ele falar o que pensa, deixar ele expor opinião, por mais que vá contra todo o senso comum do futebol nacional. Jogadores são seres humanos e tem todo direito de falar o que bem entender. Se vai agradar, não sei, mas não é para ninguém, muito menos a imprensa julgar isso. A fuga do clichê é benéfica, a não ser que queiram que no futuro os jogadores sejam substituídos por máquinas. Todo tipo de robotização futebolística é ruim, tanto em campo, ou fora dele. Futebol é imprevisibilidade, até mesmo nas entrevistas. Fala, Marcão!
como dizem os italianos, morte ao futebol moderno!
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